4                                                  Boletim Informativo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha

INTEGRAÇÃO INSTITUCIONAL E AGRICULTURA CONSERVACIONISTA NO PLANALTO SUL-RIO-GRANDENSE

Denardin, J.E. ; Kochhann, R.A.

  Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil, Fone/Fax (54) 311 3641,
   e-mail:
denardin@cnpt.embrapa.br ;  rainoldo@cnpt.embrapa.br 

Palavras-chave: sistema plantio direto, prática conservacionista,extensão, pesquisa, assistência.

      As experiências prático-científicas em agricultura conservacionista levadas a efeito no Planalto Sul-Rio-Grandense, a partir dos anos sessenta, revelam singulares níveis de integração dos segmentos pesquisa, ensino, cooperativismo, assistência técnica e extensão rural, temporalmente definidos em decorrência da evolução de tecnologias de manejo de solo e conseqüentes ajustes no sistema agrícola produtivo, na busca do desenvolvimento da agricultura regional, da estabilização socioeconômica do agronegócio e da minimização de impactos ambientais.
     Nas décadas de sessenta e setenta, as tecnologias de manejo conservacionista de solo conjugavam melhoria da fertilidade do solo, terraceamento e semeadura em contorno. A melhoria da fertilidade do solo, associada a condições favoráveis do mercado de grãos e a incentivos proporcionados pela política de crédito agrícola subsidiado, constituiu fator preponderante à transformação de sistemas tradicionais de produção agropecuária, florestas e campos naturais em lavouras produtoras de grãos em que prevalecia a sucessão de culturas trigo/soja. O novo sistema de produção adotado desencadeou, num primeiro momento, a sensação de um agronegócio promotor de desenvolvimento regional e, num segundo momento, transformou-se na principal causa de degradação dos solos da região produtora. A falta de consciência conservacionista, o incipiente domínio do conhecimento relativo aos problemas implicados no processo de erosão hídrica e a predominância de políticas agrícolas imediatistas, ofuscadoras da percepção diferencial entre o conservacionismo do potencial produtivo e a oportunidade de negócio rentável, restringiram a sucessão de culturas trigo/soja a métodos inadequados de manejo de solo, diante das condições ambientais da região, envolvendo queima de resíduos culturais, mobilização intensa de solo e uso de terras inaptas, em que as técnicas terraceamento e semeadura em contorno, amplamente difundidas, mostravam-se insuficientes para o controle eficaz da erosão.
    
No período compreendido entre fins da década de setenta e meados da década de oitenta, a eliminação da queima de resíduos culturais, a redução da intensidade de preparo de solo e a introdução de espécies alternativas de inverno em rotação com a cultura de trigo, como adubo verde e/ou cobertura de solo, induzidas pelo Projeto Integrado de Uso e Conservação do Solo (PIUCS), implementado pela Comissão Estadual Coordenadora da Conservação do Solo no Rio Grande do Sul (CESSOLO), aliadas às técnicas de terraceamento e de semeadura em contorno já consolidadas, constituíram marco revolucionário nos conceitos de agricultura conservacionista na região. O grau de adoção de parte dessas tecnologias pode ser percebido nas tabelas 1 e 2.
 

Tabela 1.

Sistemas de manejo de palha em 123 municípios das Regiões Fisiográficas Planalto Médio, Alto Uruguai e Missões do Rio Grande do Sul abrangidos pelo Projeto Integrado de Uso e Conservação do Solo-PIUCS (CESSOLO). 1984

Sistemas de manejo de palha

                                  Área

- - - - - - ha - - - - - -

 

- - - - - - % - - - - - -

Palha queimada

         21.795

 

            1

Palha incorporada

       1.555.390

 

           68

Palha na superfície do solo

         700.000

 

           31

Total

       2.277.185

 

         100

Fonte: Emater-RS.

     O período compreendido entre meados da década de oitenta e início da década de noventa foi marcado pelas ações do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, com foco no desenvolvimento integrado de comunidades rurais, e pela criação e proliferação de grupos associativos para trocas de experiências, com o objetivo de desenvolver o sistema plantio direto.
     As atividades desenvolvidas no âmbito do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, em termos conservacionistas, fundamentalmente, incorporaram ao enfoque preconizado pelo PIUCS o terraceamento em nível, integrando propriedades rurais componentes de uma mesma microbacia hidrográfica. Resultados positivos dessas ações serviram de modelo orientador para o estado estabelecer novos programas de desenvolvimento do meio rural, como Pró - Guaíba, Pró-Rural 2000 e RS - Rural.
    
Os grupos associativos, com destaque para o Clube Amigos da Terra, foram, nesse período, os principais responsáveis pelas mobilizações em prol do sistema plantio direto na região, creditando a essa técnica, além da indiscutível eficácia no controle da erosão, novo enfoque ao sistema agrícola produtivo, fundamentado na rotação de culturas, na mobilização de solo exclusivamente na linha de semeadura e na manutenção permanente da cobertura do solo.

Tabela 2.

Sistemas de manejo de solo em 123 municípios das Regiões Fisiográficas Planalto Médio, Alto Uruguai e Missões do Rio Grande do Sul abrangidos pelo Projeto Integrado de Uso e Conservação do Solo-PIUCS (CESSOLO). 1984

Sistema de manejo de solo

                                   Área

- - - - - - ha - - - - - -

 

- - - - - - % - - - - - -

Preparo convencional

         601.707

 

             26

Preparo reduzido

         975.476

 

             43

Sistema plantio direto

         700.000

 

             31

Total

      2.277.185

 

           100

Fonte: Emater-RS.

 Essas duas frentes de trabalho, contemporâneas, porém com atividades paralelas, evidenciaram enfoques conflitantes em relação às práticas mecânicas de controle de erosão. Enquanto os grupos associativos para trocas de experiências concentravam esforços no desenvolvimento do sistema plantio direto, como tecnologia conservacionista suficiente, o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas focalizava o tema de forma mais abrangente, preconizando, além de práticas culturais, a sistematização da lavoura com o estabelecimento de terraceamento em nível, como forma de prevenir a contaminação de mananciais de superfície.



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