4                                                  Boletim Informativo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha

     Foi nesse período que, em decorrência de observações empíricas, divulgadas por Martin (1985), no III Encontro Nacional de Plantio Direto, realizado em Ponta Grossa, PR, em 1985, teve início a disseminação do conceito de que o sistema plantio direto prescindia de terraceamento e de semeadura em contorno como práticas suplementares para o controle de erosão. Como conseqüência, no estado, desfez-se indiscriminadamente o terraceamento em lavouras conduzidas sob sistema plantio direto e adotou-se a semeadura paralela ao maior comprimento da gleba, independentemente do sentido da pendente.
     A década de noventa destacou-se, fundamentalmente, pela intensa atividade de pesquisa e desenvolvimento orientada à viabilização do sistema plantio direto, em atendimento à necessidade de ajuste regional de tecnologias de processo, de produto e de serviço implicadas no sistema, tais como manejo de insumos, disponibilização de semeadoras específicas para plantio direto adequadas à estrutura fundiária dominante e capacitação de assistentes técnicos, respectivamente. O resultado advindo pode ser avaliado pelo elevado índice de adoção do sistema plantio direto no período de 1992 a 1998 (Figura 1).
     Embora esse sucesso tenha sido fruto do enfoque sistêmico dedicado, observa-se que, do ponto de vista conservacionista, o complexo de processos tecnológicos que compõe o sistema plantio direto não foi plenamente contextualizado diante da incessante expectativa de alcance de uma agricultura irrepreensível, mormente pelo descaso com o manejo das águas superficiais, decorrente do abandono de práticas conservacionistas suplementares, como o terraceamento e a semeadura em contorno. As causas determinantes dessas atitudes encontram argumentos na substancial redução de concentração de sedimentos sólidos em suspensão na enxurrada, na percepção de ganho operacional de máquinas e implementos e na economia de insumos agrícolas, pela redução das operações de remate de glebas, requerido em lavouras segmentadas pelo terraceamento. Nesse contexto, a exemplo do ocorrido na década de setenta, é perceptível que o incipiente domínio do conhecimento implicado no processo de erosão hídrica prejudicou a implementação de tecnologias conservacionistas plenas. Embora o manejo de solo e de culturas seja, em potencial, fator altamente eficaz na dissipação da energia desencadeadora do processo erosivo, há limites críticos em que essa eficácia é superada, permitindo a ocorrência de erosão.

Figura 1.

Evolução da adoção do sistema plantio direto no Rio Grande do Sul, no período de 1976 a 2000 (Emater-RS – adaptado).

     Em 1997, percebendo que a densidade de terraços tradicionalmente praticada no preparo convencional tornara-se excessiva no sistema plantio direto e preocupada com a evidente erosão de solutos instalada no sistema plantio direto, decorrente da deposição sistemática de insumos agrícolas na superfície do solo e do abandono generalizado de técnicas redutoras de riscos de contaminação de mananciais de superfície, a parceria Embrapa Trigo, Emater-RS e Sementes Falcão validou uma estrutura de terraços em nível, com espaçamentos vertical e horizontal sensivelmente maiores que os normalmente praticados. Para o dimensionamento  desse tipo de terraceamento, aplica-se o software “Terraços for Windows”, elaborado por Pruski et al. (1996), que representa versão informatizada de modelos matemáticos ajustados para esse fim. O terraceamento projetado por esse software, caracteriza-se por reduzida densidade de terraços, que repercute em maior racionalidade operacional da lavoura, demonstrando que o terraceamento e a semeadura em contorno constituem práticas conservacionistas complementares, harmonicamente integradas ao complexo de processos tecnológicos que compõe o sistema plantio direto.
     Essa técnica de terraceamento ainda não constituiu foco específico de um programa de transferência de tecnologia, pois a partir de 1998, houve nítida desaceleração de programas direcionados à implementação de ações conservacionistas no estado, em conseqüência de a Emater-RS, principal órgão de assistência técnica e extensão rural do Rio Grande do Sul, ter redirecionado o enfoque de suas atividades para a agroecologia, gerando um hiato na histórica integração institucional.
     Na atualidade, o Fórum Estadual de Solo e Água do Rio Grande do Sul, instituído em 2002, a exemplo do papel cumprido pela CESSOLO na década de setenta, vem imprimindo a comunhão de conceitos e de atitudes em agricultura conservacionista em torno da incessante expectativa de alcance de uma agricultura competitiva, porém comprometida em prover respeito ao ambiente e segurança alimentar.

 Referências bibliográficas

DENARDIN, J.E. Enfoque sistêmico em sistema plantio direto - fundamentos e implicações do plantio direto nos sistemas de produção agropecuária. In: I REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO, 1996, Lages, SC. Plantio Direto: Conceitos, Fundamentos e Práticas Culturais. Lages, SC: Núcleo Regional Sul da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997. p.11-18.

DENARDIN, J.E., KOCHHANN, R.A., BERTON, A.L., TROMBETTA, A., FALCÃO, H. Terraceamento em plantio direto. Passo Fundo, RS: CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE TRIGO. 1998. (Comunicado Técnico).

MARTIN, E. O plantio direto no estado do Rio Grande do Sul. In: ENCONTRO NACIONAL DE PLANTIO DIRETO, 3., 1985, Ponta Grossa. Anais... Ponta Grossa: Batavo/Fundação ABC. p.15-16.

PRUSKI, F.F.; SILVA, J.M.A. da; CALIJURI, M.L.; BHERING, E.M. Terraço for windows, versão 1.0. Viçosa: UFV - Departamento de Engenharia Agrícola, 1996. (1 disquete + manual do usuário).

WÜNSCHE, W.A., DENARDIN, J.E., MIELNICZUK, J., SCOPEL, I., SCHNEIDER, P., CASSOL, E.A. Projeto integrado de uso e conservação do solo - um esforço conjunto para a conservação do solo no rio grande do sul. Trigo e Soja, Porto Alegre, RS, v.51, n.-, p.20-25, 1980.      


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