Assembléia do PR homenageia os pioneiros do plantio direto
A Assembléia Legislativa do Paraná, dentro
das comemorações dos 30 anos de criação da Embrapa, homenageou os
introdutores do plantio direto no Estado. O produtor Manoel Henrique
Pereira, o Nonô, recebeu o título de cidadão benemérito do Paraná.
Também foram homenageados Franke Djikstra e Herbert Bartz. Com isso a
Assembléia assinalou o pioneirismo paranaense no uso da técnica que
ajuda a conservar os solos, eleva a produtividade, projeta o Brasil como
exportador de alimentos e viabiliza a agricultura familiar. Quando foi introduzida a mecanização na
agricultura brasileira, o uso de máquinas se mostrou crítico para os
solos tropicais, sujeitos a chuvas e ação do sol e ventos, causando
erosão da camada fértil. Os esforços iniciais para a conservação
envolveram o cultivo em bacias hidrográficas e uso de curvas de nível.
Mas isso não se revelou suficiente. Foi então que os três agricultores
foram atrás de conhecimentos e começaram a aplicar o plantio direto na
palha, com a proposta de "não queimar, não arar, não destruir para
produzir", uma revolução silenciosa, apoiada pelos órgãos oficiais de
pesquisa e extensão. A mudança permitiu transformar a
agricultura subsidiada, de baixa produção, num processo sustentável, que
hoje ocupa 5 milhões de hectares no Paraná e 20 milhões no Brasil. A
evidência de que a técnica trazia de volta atividade biológica ao solo
fez com que os produtores começassem a criar "clubes da minhoca pelo
país. O exemplo foi seguido por muitos produtores, como em Mauá da Serra
(Norte do Paraná), onde foi comemorado em maio o aniversário de 30 anos
do plantio direto, com recordes de produção em um solo antes tido como
pobre. Por situarem a contribuição dos paranaenses
ao nível das inovações históricas na técnica agrícola - como a
introdução das plantas de inverno, dos fertilizantes químicos,
colheitadeiras de trigo, entre outros - órgãos técnicos como o Banco
Mundial e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
convidaram os três produtores para palestras em centros brasileiros,
universidades americanas e até na Rússia. O cultivo direto na palha ainda contribui
para viabilizar a agricultura familiar, já que permite a dispensa de
equipamentos caros. Um produtor trabalhando com tração animal pode
cultivar áreas pequenas, diversificadas, desde que apoiado por
assistência técnica e créditos, como financiamentos de custeio.
Nonô Pereira
Manoel Henrique Pereira agradeceu à
Assembléia Legislativa e especialmente ao deputado Plauto Miró Guimarães
Filho, autor da proposição. Durante seu discurso ele se mostrou
emocionado, perante os deputados, companheiros de atividade rural e seus
familiares. "A razão principal desta emoção é de que a minha origem
familiar está ligada à pesquisa, experimentação e produção, pois meu
pai, como agrônomo do Ministério da Agricultura, no início dos anos 50,
incentivou e viabilizou a produção de grãos nos Campos de Ponta Grossa",
contou. Acompanhando o trabalho de seu pai, Nonô
acabou tornando a atividade rural seu meio de vida e realização
profissional. "Não tenho formação técnica, fugi da universidade para ser
tratorista, e foi nesse trabalho e na dedicação da solução dos desafios
do dia a dia que consegui me manter na atividade rural por quase 50
anos", destaca. Um dos grandes desafios que marcaram essa
trajetória foi o controle da erosão por efeito das chuvas sobre a
agricultura convencional. As baixas produtividades agrícolas obtidas até
o final dos anos 60, no Sul do Brasil, eram suportáveis pela
disponibilidade de financiamentos a custos subsidiados. Com as reformas
econômicas freqüentes, a agricultura deixou de ser uma atividade
privilegiada e teve que participar em igualdade de condições com outros
setores. No início dos anos 70 todo uso do solo no Paraná teve de ser
revisado, segundo Manoel Henrique. Com os novos métodos o Estado assumiu a
liderança nacional no controle da erosão e um grande movimento de
conscientização para a conservação dos solos e do meio ambiente foi
deflagrado. "O fato marcante foi a tentativa de se mudar o sistema de
alta mecanização dos solos que era utilizada. A proposta foi não
queimar, não arar, não destruir para produzir", explica. Neste momento começou uma integração da
pesquisa oficial, extensão e assistência técnica com os produtores, o
que continua nos trabalhos de desenvolvimento do plantio direto. Entre
todos os trabalhos desenvolvidos, destaca-se a Fundação do Clube da
Minhoca (1979), 1o vestibular de Agronomia do Brasil de um
curso com a cadeira de plantio direto, na Universidade Estadual de Ponta
Grossa (1983) e fundação da FEBRAPDP (1992).
 A região dos Campos Gerais do Paraná, por
estar situada em condições de solo de baixa fertilidade e de topografia
ondulada teve atuação de destaque no uso e divulgação do sistema de
plantio direto. "Com participação do companheiro Franke Dijkstra e apoio
de técnicos e produtores estamos levando, nestes 28 anos, nossas
experiências para todo País e o mundo", destaca. Do Paraná saíram
informações práticas, técnicas e científicas que ajudam a aumentar a
produtividade e melhorar o meio ambiente. O Brasil é conhecido
internacionalmente como líder desta tecnologia.
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