José Eloir Denardin1 Rainoldo Alberto Kochhann1
No Brasil, o modelo preconizado de
incorporação de novas áreas agrícolas ao processo produtivo e de
busca de aumento de produção por unidade de área, alicerçado no
emprego de sistemas de manejo incompatíveis com a qualidade estrutural
do solo e no uso intensivo de insumos, descomprometidamente com a questão
ambiental, está nitidamente sendo substituído por diretrizes da
sustentabilidade, cenário em que a ambiência é o novo paradigma.
Um agroecossistema, convencionalmente
representado por um estabelecimento agropecuário, constitui, do ponto
de vista da termodinâmica, um sistema aberto, com fluxos de entrada e
de saída de energia e de matéria, em permanente relacionamento com os
sistemas atuantes nas interfaces. A sustentabilidade desse
agroecossistema, fundamentada no atendimento de necessidades socioeconômicas,
na segurança e na qualidade alimentar da humanidade e na preservação
da qualidade dos recursos naturais, está na dependência da obtenção
do equilíbrio dinâmico desses fluxos e de suas relações com o
entorno, mediante a manutenção da produção mínima de entropia.
Portanto, partindo da premissa que processos ordenativos diminuem a
produção de entropia e processos dissipativos elevam a produção de
entropia, elementos indicadores de sustentabilidade de um
agroecossistema podem ser expressos por coeficientes resultantes da
avaliação do grau de entropia (organização ou reorganização)
manifestado pelos processos envolvidos nesse sistema.
Nesse
contexto, há indicadores de que ao sistema plantio direto está
reservada a potencialidade para a implementação do novo padrão de
sustentabilidade da agricultura. O respeito à vida, mediante a
incessante expectativa de alcance de uma agricultura irrepreensível,
credencia o sistema plantio direto como uma real possibilidade de
atendimento a esse paradigma.
O plantio direto ¾
enfocado como um sistema de exploração agropecuária que envolve
diversificação de espécies, via rotação de culturas, mobilização
de solo apenas na linha de semeadura e manutenção dos resíduos
vegetais de culturas anteriores na superfície do solo ¾
é um complexo de tecnologias de processo, de produto e de serviço que
submete o sistema de produção agropecuária a um menor grau de
perturbação ou de desordem, quando comparado a outras formas de manejo
que empregam mobilização intensa de solo. Em conseqüência, esse
conjunto de tecnologias requer menor infra-estrutura de máquinas e
equipamentos, demanda menor força de trabalho e menos energia fóssil,
minimiza a erosão, diminui a mineralização da matéria orgânica,
aumenta os processos de floculação e de agregação do solo,
desenvolve a estrutura do solo, favorece o controle biológico de
pragas, de doenças e de plantas daninhas e desacelera as taxas de
ciclagem e reciclagem de nutrientes, induzindo sincronismo com as taxas
de crescimento das formas de vida presentes. Portanto, o plantio direto,
comparativamente a outras formas de manejo, potencializa a obtenção do
equilíbrio dinâmico do sistema de produção agropecuária, tendendo
à produção mínima de entropia, disciplina os fluxos de entrada e de
saída do sistema, economizando energia, e conserva o potencial biológico
do sistema, reservando-lhe maior capacidade de auto-reorganização. Ao
refletir esse conceito, pela adoção do sistema plantio direto
objetiva-se expressar o potencial genético das espécies cultivadas
através da maximização do fator ambiente e do fator solo sem,
contudo, degradar os recursos naturais, permitindo-lhe atuar como um
mecanismo de transformação, de reorganização e de sustentação de
agroecossistemas.
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