6                                                  Boletim Informativo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha

Uso do correntão no Plantio Direto
Muito discutida, a gradagem, pode dar lugar à utilização do correntão tracionado



Marcio Scaléa
Engº Agrº da Monsanto


A gradagem eventual em áreas de Plantio Direto tem sido muito discutida, com base em observações de campo e experimentos. Mesmo combatida, a gradagem segue sendo muito usada. São raros os produtores que de forma definitiva aposentaram suas grades. A maioria segue gradeando, seja para incorporar calcário, ou sementes de culturas de cobertura, seja para romper pretensas compactações ou controlar pragas e doenças.
Para certas finalidades, como a incorporação de calcário, ela é desnecessária, pois calagem sem incorporação funciona muito bem nas áreas sob Plantio Direto. Para outras finalidades como controle de pragas e doenças ela é ineficiente, pois a grade acaba causando mais mal aos organismos benéficos do solo do que às pragas e patógenos em si. Mas para a incorporação de sementes como o milheto, por exemplo, a gradagem é eficiente e, pela ótica do produtor médio, ela é barata, pois ele não considera a depreciação na composição do seu custo. A gradagem só será abandonada se for colocada, à disposição do agricultor, uma alternativa tão eficiente e que tenha custo equivalente ou menor. O uso do correntão tracionado por dois tratores tem sido apontado como uma alternativa à gradagem, não só por seu rendimento operacional maior e menor custo, mas também pela redução da incorporação dos resíduos culturais que se encontram sobre o solo, tendo como conseqüência menor decomposição da matéria orgânica desse solo.
Para analisar a eficiência da gradagem niveladora e do uso do correntão como formas de incorporar sementes de culturas de cobertura, foi instalado um experimento na Fazenda Santo Ângelo em Uberaba MG, conforme segue:

I – Área Experimental:
Resíduo de soja colhida em abril/maio de 2004, que recebeu uma aplicação de Roundup WG em fins de maio, para eliminar touceiras de capim amargoso, manchas localizadas de trapoeraba e infestação generalizada de outras espécies como picão preto e erva de Santa Luzia. Cumpre observar que o tratamento foi tardio, quando a maior parte das sementes das infestantes já estava madura.

II – Tratamentos:
1- Milheto aplicado a lanço e incorporado com grade niveladora fechada.
2- Milheto aplicado a lanço e incorporado com correntão.
3- Testemunha sem aplicação de sementes e sem uso de implementos.
4- Brachiaria ruziziensis aplicada a lanço e incorporada com correntão.
5- Brachiaria ruziziensis aplicada a lanço e incorporada com grade niveladora fechada.

III – Detalhes de plantio e incorporação:
Milheto: 28 kg/há
Ruziziensis: 20 kg/há (aproximadamente 500 pontos de VC).
Equipamentos:
- Aplicador Precisa da Jumil, com faixa de 14 metros de largura.
- Grade niveladora de discos lisos de 20 polegadas de diâmetro.
- Correntão de 20 metros (aproximadamente 16 metros úteis), pesando 22 kg/m linear, com destorcedores a cada 5 metros.

IV – Datas e Atividades:
- 01 de outubro de 2004: esparramação das sementes e incorporação.
- 01 a 08 de outubro: avaliações diárias da emissão de CO2 por aparelho Licor (equipe do CENA-ESALQ), com quatro repetições por tratamento, em condições de muita pouca chuva (8,2 mm totais no período).
- 18 e 19 de outubro: avaliações da emissão de CO2 após boas chuvas (27 mm).
- 03 de novembro: avaliação da emergência das culturas e das plantas daninhas, usando arco de 0,25 m2, três repetições por tratamento.

V – Resultados:
Emissão de CO2: como se vê na figura abaixo, os níveis de emissão de CO2 não foram afetados pelo tipo de implemento usado para incorporar as sementes, permanecendo num patamar muito baixo enquanto não choveu. Após a chuva os valores passaram para um patamar mais alto, mas mesmo assim sem diferir entre os tratamentos, voltando aos valores baixos logo em seguida.


Emergência das Culturas Semeadas e das Plantas Daninhas: no quadro abaixo podemos ver a melhor eficiência da grade quanto à emergência, tanto do milheto como da ruziziensis, tendo o correntão entre 50% e 60% da eficiência da gradagem. Mas quando se analisa a emergência de plantas daninhas esta diferença não é tão drástica, tendo ambos os tratamentos provocados muito mais mato do que a testemunha.

Tratamento Pl/m2 %Relat. Pl/m2 %Relat.
Culturas Pl.Daninhas

GrBrach 76 100% 765 200%

CoBrach 47 62% 1677 439%

Testem. — — 383 100%

CoMilhe 85 51% 540 141%

GrMilhe 167 100% 1548 404%

VI – Discussão:
A equivalência entre grade e correntão quanto à emissão de CO2 parecia ser uma grande surpresa já que, em inúmeros outros trabalhos, a gradagem aparece provocando uma mineralização muito maior da matéria orgânica do solo. Mas quando se analisam as condições do experimento nota-se que o resultado não é tão surpreendente. A condição de seca extrema reduziu o impacto dos implementos, mas principalmente a pequena presença de resíduos sobre o solo (área de pousio) e a predominância de restos culturais de soja já expostos às intempéries por mais de 120 dias, foram determinantes para nivelar a emissão de CO2 entre os tratamentos. A regulagem da niveladora, trabalhando praticamente fechada, também contribuiu para estes resultados, praticamente não enterrando os resíduos ali presentes.
A diferença entre os tratamentos quanto à emergência do milheto e da ruziziensis já era esperada, mas não tão drástica, o que pode ser explicado pela seca antes e durante a condução do experimento. É esperado (e dados de outros ensaios mostram isso) que em boas condições de umidade esta diferença se atenue.
A emergência de plantas daninhas foi maior nas faixas onde se movimentou o solo em relação à testemunha, e isto se explica pelo fato de os implementos derrubarem as sementes no chão, provocando a sua germinação com as primeiras chuvas.

VII – Conclusões
Pelos resultados do experimento pode-se concluir que:
- O uso da grade para a incorporação de sementes de culturas de cobertura no final do período de seca (agosto a outubro) em áreas de pousio não é tão prejudicial à matéria orgânica do solo, desde que usada bem fechada, com ação bem superficial.
- Nesta situação de solo seco, a emergência das culturas incorporadas com a grade é muito boa, e apenas razoável com o correntão.
A emergência de sementeira de plantas daninhas é muito alta, tanto para a grade como para o correntão, o que pode justificar o uso principalmente deste último como uma forma de forçar a germinação de mato antes das aplicações de dessecação em pré plantio, conseguindo assim eliminar expressiva quantidade de infestantes que de outra forma iriam competir com a soja logo na sua emergência.
 


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