6                                                  Boletim Informativo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha

O Sistema Plantio Direto (SPD) e a integração
lavoura pecuária no oeste baiano

A degradação das pastagens, a queda na produtividade das lavouras, o empobrecimento da fertilidade, a baixa retenção de água e o aumento do processo erosivo do solo são sintomas do manejo inadequado, que prejudica o meio ambiente. Em função desses problemas, observados no preparo de solo, denominados convencionais, surgiu a necessidade de se adotar novos sistemas de manejo de solo, que fossem mais racionais e que causassem menos danos ao meio ambiente.
O que se sabe, então, é que a agricultura mundial deverá entrar em uma verdadeira revolução para se adaptar à globalização dos mercados e do conhecimento, à pressão crescente dos consumidores, que exigem produtos sadios e de qualidade, e à dos pesquisadores. As estratégias e os modelos de desenvolvimento terão de levar em conta a necessidade de produzir mais por unidade de recursos naturais e será necessário reduzir, ao máximo, os efeitos negativos provocados pela atividade agrícola sobre a biodiversidade do Cerrado.
Na agricultura sustentável, tem-se notado um grande aumento das práticas conservacionistas do solo e uma delas é o sistema plantio direto.
As áreas de exploração, com agricultura e a pecuária de corte, no Brasil têm apresentado sintomas sérios de ruptura na sustentabilidade dos recursos naturais. As tecnologias para a recuperação e manejo sustentável dos solos degradados dos Cerrados, tanto para as áreas de pastagens como de agricultura, visam à melhoria das suas propriedades, evitando tanto a erosão, como também a quebra do equilíbrio, que facilita a ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras, além de uma maior diversificação das atividades econômicas no meio rural.
A realidade agro-socioeconômica-cultural do Oeste Baiano faz com que sistemas de uso e de manejo, não adaptados à realidade edafoambiental da região, estejam sendo adotados, implicando em perdas significativas de solos, matéria orgânica, nutrientes e água. O uso não planejado e inadequado das terras, como a adoção de sistemas importados de cultivo e o desmatamento desenfreado de áreas de recarga e matas ciliares, torna o solo menos permeável, impedindo que ele exerça o papel de filtro e de condutor de água. Conseqüentemente, não ocorre a plena recarga dos mananciais hídricos, o que acarreta no comprometimento dos níveis de base, tornando-se suficientes para a manutenção da vida e para os usos múltiplos da água. Os Gerais Baianos compreendem as bacias hidrográficas dos afluentes da margem esquerda do Rio São Francisco, que constituem cursos d’água perenes e garantem a disponibilidade hídrica para usos múltiplos no rio.
A conservação e a estabilidade do solo podem ser conseguidas através de métodos de plantio que evitam revolvê-lo e da adoção de estratégias para aumentar o aporte de biomassa vegetal na superfície. O sistema plantio direto e a integração lavoura pecuária viabilizam a manutenção de resíduos vegetais sobre a superfície, associado ao mínimo revolvimento do solo.
Os estudos sobre espécies para diversificar a produção de grãos nos Cerrados precisam ser fomentados e necessitam de ampliação. A demanda por alternativas para o período das águas e de safrinha tem crescido, em função da necessidade do agricultor em diminuir o impacto do monocultivo, em reduzir custos de produção, incrementar a renda, proteger o solo na entressafra, criar oportunidade para a integração lavoura pecuária e maximizar o uso dos fatores ambientais com maior renda e preservação.
Com a adoção do Plantio Direto, tornou-se de fundamental importância a proteção do solo através da formação de palhada. Por muitos anos, o SPD nos Cerrados dependeu do milheto como cultura de cobertura para formação de palhada, uma vez que as lavouras de milho ainda são reduzidas - menos de 10% da área cultivada - com problemas de armazenagem e políticas de comercialização inadequadas. Esse fator permitiu a consolidação deste sistema de conservação do solo, em substituição das ervas voluntárias, de espécies diversas, nativas da região e de difícil manejo, com elevado custo de controle.
Atualmente, o sistema Santa Fé está vislumbrando uma excelente opção para produção de palhada ao SPD. O sistema consiste no plantio do milho associado à braquiária (Brachiaria ruziziensis) ou outra gramínea, semeada nas entrelinhas do milho. A braquiária ocupa a entrelinha do milho, não permitindo a instalação de ervas invasoras e, quando o milho é colhido, o capim fica, formando grande volume de massa verde. Essas áreas podem ser aproveitadas para alimentação de animais, especialmente para a engorda de gado durante o período da seca, com produção de carne de excelente qualidade, sem utilização de irrigação.
A prática de Plantio Direto em área expressiva converteu a agricultura brasileira do extrativismo à sustentabilidade, sem subsídios. A intensificação do uso da terra, que compatibiliza o crescimento agropecuário com a preservação da natureza e o zelo dos recursos naturais, é uma co-responsabilidade de toda a sociedade. O SPD com lavouras em pastagens degradadas permitiria crescimento agropecuário de 2% ao ano, sem a necessidade de desmatamento. Incentivos financeiros a esta prática não caracterizam subsídios diretos, porem transferências sociais. A sociedade precisa valorizar a vegetação preservada que, em projeção de 10 anos, chegaria a 5,8 milhões de hectares, com produção incremental no valor de US$8,8 bilhões.
A intensificação do uso da terra é o único caminho para compatibilizar o crescimento agropecuário e do agronegócio como um todo, com a preservação da vegetação e da fauna nativas. Se até agora tem sido mais barato expandir a agricultura horizontalmente, em vez de verticalizar com maior produtividade, um estímulo financeiro a essa segunda via será estratégico para reverter este quadro.
O custo de produção de grãos e de carne é reduzido em SPD x ILP e com tendências crescentes de produtividade, contribuindo para diminuir o custo da cesta básica e melhorar a competitividade das exportações brasileiras. O sistema absorve o crescimento do rebanho bovino e a expansão das áreas agrícolas sem a necessidade de novos desmatamentos da vegetação nativa, com reflexos positivos.
O Sistema Plantio Direto e a Integração Lavoura Pecuária permitem reverter a espiral de pobreza dos sistemas extensivos de pecuária extrativista, hoje praticados nas regiões tropicais, compatibilizando as necessidades de maior exportação de grãos e carne com o não incentivo ao desmatamento. Também reduzem a erosão das pastagens degradadas e mitigam seus efeitos dentro e fora da fazenda, melhorando a qualidade ambiental nas bacias hidrográficas, mais especificamente com relação à qualidade e perenização dos recursos hídricos. Uma vez feito o investimento inicial, os sistemas se tornam mais atrativos que a expansão por desmatamento, absorvendo preferencialmente o crescimento da demanda.
Além de ter a capacidade de drasticamente mitigar o desmatamento da vegetação nativa, a integração lavoura e pecuária em Plantio Direto é a chave para a sustentabilidade econômica e ambiental do agronegócio brasileiro.

Ingbert Dowich: engenheiro agrônomo do CPD/APDC e especialista em Plantio Direto, ingbert@uol.com.br


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