O Plantio Direto no Brasil, mais
especificamente na região Sul, está completando 30 anos em 2002. Desde as
primeiras experiências, no Norte do Paraná, até os dias de hoje, muitos dos
desafios enfrentados foram equacionados proporcionando que o Sistema de Plantio
Direto fosse adotado pelos diversos complexos agropecuários do País, se
adaptando às mais diversas condições de solo, clima, atividade produtiva e
cultura local.
Não foi diferente na metade sul do Rio Grande do Sul, onde o binômio arroz
irrigado e pecuária de corte caracteriza a matriz produtiva há mais de 50
anos. Os campos do sul, associados à disponibilidade de água dos mananciais
naturais, formam um ecossistema característico, que proporcionou o
desenvolvimento de duas cadeias produtivas muito importantes sob ponto de vista
sócio-econômico para a região. Para dar uma idéia disto, em 1998, em torno
de 90 % de arrecadação da Prefeitura Municipal de Quarai tinha origem nas
receitas de retorno de ICMS gerado pela comercialização de produtos
agropecuários.
Mas como nem tudo são flores, na década de 80, dois fatores influenciaram a
busca de inovações tecnológicas na lavoura do arroz. O primeiro foi dentro da
lavoura - o avanço da infestação de grande parte das áreas mais antigas com
o arroz vermelho. O arroz vermelho é uma variedade de espécie Oryza sativa
L., e por isto quando se apresenta como invasora de arrozais, não é possível
nenhum tipo de controle seletivo com herbicidas em pós-emergência. Por isto,
em 1983 alguns arrozeiros, inspirados pela técnica em pleno avanço nos Campos
Gerais do Paraná e no planalto Rio-Grandense, iniciaram as bases do Sistema de
Plantio Direto de Arroz Irrigado, com esta tecnologia contribuísse para a
diminuição do arroz vermelho.
O Plantio Direto é até os dias de hoje a técnica mais eficaz para conviver
com o arroz daninho. Estas iniciativas distribuídas por várias regiões da
metade sul do Rio Grande, culminaram num processo de aglutinação, em março de
1985, quando foi fundado em Alegrete, na Fazenda Cerro do Tigre, o Clube do
Plantio Direto de Arroz Irrigado. Inspirado na iniciativa dos Clubes Amigos da
Terra do planalto, produtores organizaram seminários, dias de campo, palestras
e outras iniciativas com o objetivo de desenvolver e divulgar o sistema.
O segundo fator influenciou esta busca de inovações foi a mudança na
política de financiamento do setor, no final dos anos 80, promovida pelo
governo com a retirada substancial dos subsídios. A busca por soluções que
diminuíssem os custos de produção, proporcionou um avanço significativo no
sistema de Plantio Direto, agregando tecnologias e filosofia gerencial que
contribuíram para a diminuição substancial dos custos de produção da
lavoura orizícola.
Até a metade da década de 90, o Clube do Plantio Direto de Arroz Irrigado,
que atuava em todas as regiões arrozeiras do estado, desempenhou papel
importante neste processo, aglutinando os produtores e, através de suas
parcerias, fazendo chegar a todos os demandantes da tecnologia, as ferragens
para implementar os processos necessários. Como o objetivo inicial de divulgar
e gerar parceiros nas mais diversas áreas de atuação foi atingido, o Clube
gradativamente cedeu espaço para outras instituições que assumiram o papel de
investigar e difundir a filosofia do Plantio Direto. Foi o caso de departamentos
técnicos de várias cooperativas, das instituições de pesquisa como Embrapa,
IRGA e Emater. No início da década alguns dos sócios do Clube fundaram a Cooplantio -
Cooperativa dos Produtores em Plantio Direto do Rio Grande do Sul, com o
objetivo de profissionalizar a atuação dos produtores interessados no sistema
quando da necessidade de compra de insumos, maquinários e contratação de
serviços profissionais. Filiado desde a fundação à Federação Brasileira de
Plantio Direto na Palha , o Clube do Plantio Direto de Arroz Irrigado, durante a
década de 90, cedeu gradativamente espaço para a Cooplantio, que passou a
apoiar as atividades ligadas ao sistema plantio direto de forma empresarial,
sendo hoje uma cooperativa de prestação de serviços com foco em Plantio
Direto, que atua em todas as culturas e em diversas regiões dos estados da
Região Sul.
Com a tecnologia e as mudanças que o
empresário-produtor se obrigou a assimilar para sobreviver, naturalmente as
propriedades buscaram, através da integração de atividades, uma maior
competitividade, aumentando escalas de produção.
A atividade pecuária
incorporou parte desta filosofia buscando soluções no aumento de
disponibilidade forrageira como forma de incrementar o resultado econômico das
unidades produtivas.
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Na metade sul do Rio Grande do Sul podemos dizer que as
máquinas de plantio direto deixaram as várzeas arrozeiras subindo as coxillas
para implantar cultivos forrageiros necessários aos programas de incremento de
produção bovina. São várias as técnicas de aumento de disponibilidade
forrageira atualmente utilizadas e a maioria utiliza o plantio direto para
implantação das áreas de produção.
Mais recentemente, em franca expansão pelos mesmos
motivos econômicos, conjugados com a pressão estabelecida pelas invasões,
INCRA, legislações fundiárias e baixa lotação dos campos, o plantio direto
tem sido a forma mais rápida e eficiente para alterar de forma favorável a
ocupação das terras produtivas das propriedades na metade sul do Rio
Grande. Lavouras de soja, milho, sorgo em rotação com aveia preta e nabo
forrageiro implantadas diretamente sobre os campos, transformaram do dia para a
noite o cadastro de uma unidade produtiva, além de agregarem outros benefícios
característicos dos cultivos anuais em rotação. Esta prática tem sido
implantada com raríssimas exceções através do Sistema Plantio Direto.
Em todos estes momentos, desde a sua criação, a Federação Brasileira de
Plantio Direto na Palha tem participado de forma pró-ativa na articulação de
forças que o Sistema Plantio Direto com seu dinamismo característico e
necessário, se consolide como uma ferramenta de trabalho para o produtor da
metade sul do Rio Grande do Sul, frente ao desafio de desenvolver uma
agricultura economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta,
buscando a sustentabilidade de nossos sistemas produtivos.
* Engº Agrº Ivo Mello
Produtor de Alegrete/RS- Presodente da Fundação
Maronna Presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia do rio Ibicuí
1º Secretário da FEBRAPDP
8º Encontro Nacional de Plantio Direto na
Palha
Fiquem atentos para não perder: continuam os preparativos
para o 8º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha (ENPDP), que acontecerá
de 17 a 21 de junho de 2002, no Centro de Convenções do Hotel Monte Real
Resort, em Águas de Lindóia - SP. O evento é uma promoção da FEBRAPDP, que
realiza o evento em parceria com a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo. Apoio CATI, IAC, IZ, Esalq, Unesp, Iapar, Caapas, GPD,
Embrapa, Ministério da Agricultura, Unicamp e Andef.
Os objetivos do encontro são de reunir produtores, técnicos,
acadêmicos e interessados em agricultura para discussão dos principais
problemas relacionados com o Sistema de Plantio Direto na Palha , além de
fomentar a difusão desta tecnologia. As atividades estarão sendo desenvolvidas
em painéis, palestras técnicas, conferências, palestra motivacional e
exposição de máquinas e equipamentos, produtos químicos, revistas e
publicações.
Agende a sua participação, pois o sucesso
do ENPDP depende da sua presença.
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