CATs se reúnem em Tapera
Foi realizado em Tapera, dia 1º de
dezembro do ano passado, a 14ª edição do Encontro dos Clubes Amigos da
Terra do Rio Grande do Sul. O evento, organizado pelo CAT do município, reuniu
em torno de 300 pessoas, entre técnicos e produtores. Estiveram presentes
representantes de CATs de toda a região do Alto Jacuí e das Missões. O
encontro, com o tema " A Natureza em Nossas Mãos", marcou os 10 anos
do Clube Amigos da Terra de Tapera.
O encontro teve também a presença do presidente da FEBRAPDP, Herbert Bartz e
dos engenheiros agrônomos Maury Sade, diretor executivo e Bady Cury, assessor
técnico da Federação.
O objetivo do CAT de Tapera foi "reativar o ideal dos clubes da região e
levar informações para que os mesmos se mantenham firmes em seus propósitos
de plantio direto". Segundo sua presidente, a engenheira agrônoma Rosana
Zanatta Sander, "esta é a base sustentável da agricultura". O programa do 14º ENCAT debateu temas atuais que resgatam os princípios
ecológicos do plantio direto e também as perspectivas do Plantio Direto no Rio
Grande do Sul, com destaque para a necessidade de profissionalização do
produtor rural.
Foram tratados também de temas como " Aspectos Agroeconômicos da
Globalização", com a o consultor André Pessoa, que fez uma avaliação
dos panoramas agrícolas mundiais; "Uso Racional da Água, com o professor
da USP, Marcos Vinícius Folegatti, destacando aspectos como a
aproximação de uma crise deste recurso e "Agricultura de Precisão - O
rumo das tecnologias aplicadas", ministrado pelo professor da USP, José
Paulo Molin, que ressaltou técnicas e tecnologias em equipamentos que estarão
a disposição dos agricultores nos próximos anos.
Paralelo ao ENCAT, aconteceu a 4ª edição da Exposição da Indústria,
Comércio e Serviços do município de Tapera (Expotapera) e a 3ª edição da
Exposição do Gado Leiteiro do Alto Jacuí (Expojacuí).
Clube Amigos da Terra: um sonho
que deu certo
A adoção do plantio direto na
palha, antes de ser uma nova tecnologia, é uma nova forma de pensar e de fazer
agricultura. Novos conceitos e novas concepções sobre o que é produzir grãos
foram introduzidos através deste sistema. O uso do solo passou a ter outro
conceito e uma nova ciência foi introduzida. Conceitos arraigados tiveram
que ser relegados, deixando, de um momento para outro, de ser corretos, assim
como pessoas que tiveram uma vida dedicada a conceitos de cultivo tradicional
viram-se despojados de sua sabedoria, tendo de chegar a triste conclusão de que
tudo aquilo que foi dito e feito até então já não era mais uma verdade
absoluta. No entanto, o preço pago pelos pioneiros foi alto. Muitas vezes foram
chamados de radicais, sonhadores, visionários e até de "loucos".
Na década de 70, no Sul, foram
feitas muitas tentativas para introdução do sistema. Esbarraram em diversos
obstáculos e ocorreram muitas frustações.
Havia um sistema convencional
arraigado e, no fundo, uma má vontade coletiva para que o processo não
evoluísse. Os paradigmas a serem quebrados eram muitos. No entanto, no início
dos anos 80, surgia uma nova idéia de trabalho, talvez um sonho, em prol do
desenvolvimento do sistema. Pessoas abnegadas e de visão futurista criaram os
Clubes "Amigos da Terra" (CAT).
Timidamente, no início os clubes
formaram grupos com o objetivo determinado de desenvolver o sistema de
plantio direto na palha. Procuraram a pesquisa, criaram áreas pólo de adoção
e difusão das técnicas já existentes, fizeram reuniões, trocaram
informações entre si e fizeram dias de campo em suas propriedades.
A medida que o tempo passava, os
Clubes Amigos da Terra começaram a ficar fortes e até afoitos. A timidez
inicial deu lugar a uma postura mais arrojada.
No final dos anos 80 já havia no
Rio Grande do Sul ao redor de 30 CATs. Os integrantes começaram a cobrar com
mais determinação informações da pesquisa, passaram a exigir cada vez mais
dos fabricantes de máquinas, implementos e insumos, produtos adaptados e
compatíveis com o sistema. A partir daí o sistema decolou. Houve uma
adesão generalizada: os centros de pesquisa aceleram seus trabalhos, a
extensão rural mudou o discurso e as empresas de insumos agrícolas assumiram a
idéia e redirecionaram suas forças.
Os anos 90 foram de
consolidação dos CATs e do sistema de plantio direto na palha no Sul,
atingindo níveis de adoção na região de cultivo de grãos acima de 80%. O
convencional passou a ser o plantio direto e os resultados foram surgindo. Hoje
o sistema é inquestionável. No entanto, ainda existe um espaço considerável
para a evolução dos CATs.
O sistema é dinâmico, sendo
necessário uma constante atualização e renovação de conceitos.
Problemas novos sempre estão surgindo e, melhor do que errarmos sozinhos é
trocar informações com nossos colegas e técnicos para não cometermos
os mesmos erros, bem como aproveitar as experiências positivas, trazendo-as o
mais rápido possível para dentro de nossa propriedade. Independentemente
da atualização na adoção do sistema de plantio direto na palha, os CATs são
um campo fértil para o desenvolvimento de outras atividades.
Com grupos organizados, podem ser
usados para desenvolver a capacidade gerencial, técnica e administrativa
de seus membros e até servir de embrião para o desenvolvimento de atividades
empresariais conjuntas. A uniformidade de linguagem e os objetivos comuns dos
grupos pode oportunizar novos raciocínios e até novos sonhos.
Silvio Ohse - Vice-presidente FEBRAPDP - RS
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