8                                                  Boletim Informativo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha

 Estudos relacionam agricultura ao efeito estufa
 

Pesquisa da Unesp mostra como atividade agrícola provoca a emissão de gás carbônico e aponta meios para sua redução


A maior intervenção artificial no ambiente já realizada, com enorme perda de biodiversidade e vasta redução de áreas florestais ao redor do mundo, pode também afetar o processo que está levando ao aquecimento global. Estamos falando da agricultura, atividade cujo impacto no clima ainda é desconhecido, mas pouco a pouco está sendo destrinchado por um grupo de cientistas brasileiros. Os resultados poderão ajudar no combate à mudança climática. 
Os estudos começaram em 1998 e o objetivo principal é descobrir qual a influência da atividade agrícola na contribuição para a emissão de gases causadores do efeito estufa, fenômeno que permite a entrada de radiação solar pela atmosfera, mas não a saída de calor refletido pela superfície da Terra, o que causa o aquecimento do planeta. O principal gás estufa é o dióxido de carbono (CO2), o mesmo que vem embebido nos refrigerantes e que é exalado na respiração.
O solo utilizado na agricultura passa a ser um emissor de CO2, principalmente no momento em que a terra está “descansando”, livre de vegetação, na época
das chuvas, antes da época do plantio. Mas ninguém sabe muito bem a quantidade de gás carbônico que é emitida. “As estimativas vão desde a algo próximo de zero a até o correspondente a 40% de toda a atividade industrial”, diz o físico coordenador do estudo na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, em Jaboticabal (interior de SP), Newton La Scala Junior,
Claro que a agricultura tem pelo menos um efeito benéfico ao clima: as plantas são capazes de absorver CO2 atmosférico e convertê-lo em oxigênio, via fotossíntese.
Se é o suficiente para compensar os danos que ela produz, quando a terra descansa, estudos ainda terão de mostrar. “Nosso principal objetivo é gerar conhecimento sobre o assunto, pois há muitos dados pouco conhecidos sobre a emissão de CO2 no solo de áreas agrícolas”, afirma o cientista. 
Alguns resultados interessantes já foram obtidos. O grupo já sabe que fatores inerentes à composição do solo afetam a quantidade de gás carbônico que ele emite. “Se o solo tiver mais ferro, na forma de hematita, por exemplo, como o solo que se vê no interior de São Paulo, mais avermelhado, ele vai emitir menos gás carbônico, porque terá atividade microbiana menor”, explica. 
Outra coisa que pode afetar o meio ambiente é a forma como a terra é preparada para o plantio.
“Também temos mostrado que sistemas diferentes de preparo têm impacto variável na emissão de gás carbônico”, conta o cientista. “Coisas como o uso de enxada rotativa, a velocidade do trator, a velocidade das pás, tudo isso afeta a ação do solo na emissão de CO2.” 
Segundo La Scala, existe o potencial para, com a adoção de estratégias corretas, tornar o solo de uma plantação tão bom para a retenção de dióxido de carbono, quanto o solo das florestas, campeãs nesse quesito. Ou seja, a atividade agrícola poderia passar de bandido a mocinho climático. 
Com os avanços, La Scala espera que em breve as pesquisas poderão fornecer subsídios para a criação de padrões para plantações “climaticamente corretas”, que emitam o mínimo possível de CO2 na atmosfera. Com isso, seria possível incluir projetos agrícolas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, elemento do Protocolo de Kyoto que prevê cotas de “créditos de carbono” para empreendimentos de cunho ambiental que reduzam emissões de CO2.
Folha de São Paulo


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