3                                                     Boletim Informativo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha

Plantio direto

Xico Graziano

As chuvas chegaram. Dias quentes, aumento da luminosidade, está começando mais uma safra de verão, que promete ser novo recorde no volume de grãos. Tomara.
Agricultores de vários cantos se preparam para iniciar seus plantios. Máquinas revisadas, fertilizantes e agrotóxicos encomendados, custeio bancário engatilhado. Tudo preparado, fora a reza. Que São Pedro nos ajude!
Breve, a poeira dos campos se levantará pelo movimento dos tratores, denunciando a terra revolta para receber as sementes. Arar, gradear, uma, duas vezes se necessário, acabar com o mato, limpar o terreno, abrir o chão, vai germinar novo ciclo da vida rural. Correto? Não totalmente. Quem imagina a zona rural nos moldes como a descrevem tradicionalmente, repleta de máquinas que reviram o solo e avermelham a testa suada dos tratoristas, comete um erro de interpretação. Escarificar o terreno significa passado na moderna agricultura nacional.
Plantio direto: assim se denomina a técnica responsável pela verdadeira revolução na forma de produzir no campo. De, talvez, 47 milhões de hectares a serem plantados agora, cerca de 25 milhões não conhecerão mais o disco do arado. Sai pra lá!
Entender isso é fundamental. Nas regiões agrícolas prósperas, especialmente na fronteira de expansão do cerrado, onde se cultiva soja, milho e algodão, o solo não mais é revolvido, nem afofado, antes da semeadura. Melhor dizendo, não como um todo. No plantio direto - aqui está a diferença - apenas o pequeno sulco que receberá a semente é preparado mecanicamente. No resto, permanece o solo intacto.
Quem inventou o plantio direto foi o agricultor nacional. O pioneiro chama-se Herbert Bartz. Em 1972, esse intrépido agricultor cometeu uma heresia agronômica na sua propriedade, situada em Rolândia, Norte do Paraná. Depositou suas sementes diretamente na vala de plantio, sem arar a terra. Alguns anos depois, nos Campos Gerais (região de Ponta Grossa), produtores aderiram à novidade. Os unia a vontade de combater a erosão que estava destruindo seus terrenos.
Aqui mora o perigo da agricultura tropical. As chuvas torrenciais, aliadas às demais características do ecossistema, tornam-se uma grave ameaça à produtividade. Nos países temperados da Europa e nos Estados Unidos, o período de inverno rigoroso faz gelar o solo, interrompendo sua vida microbiana. Ao iniciar o degelo, torna-se necessário revirar suas camadas mais profundas, expondo-as ao sol enriquecedor da primavera. Remexer o solo, lá, garante abundância.
Copiada para o Brasil, a técnica gerou a tragédia: enormes voçorocas surgiram, marcando o solo com cicatrizes do mal. Ao se intensificar a produção, seguia a perda de fertilidade. Curvas de nível e terraços foram implementados, métodos de combate da erosão desenvolvidos. Mas não cessava o castigo da natureza.
A idéia inovadora do plantio direto mostrou um novo caminho para a agronomia. Da incredulidade inicial, avançou-se para a pesquisa. Órgãos como o IAC, Iapar, Embrapa, investiram no aprimoramento da técnica. Inovaram a ciência.
Os próprios agricultores, porém, foram decisivos no processo. Em 1982, organizaram no Rio Grande do Sul os famosos “Clubes Amigos da Terra”. Na Manah, conhecida empresa tupiniquim de adubos, surgia um grande divulgador do plantio direto na palha, o agrônomo Fernando Penteado Cardoso.
A velha receita - manter a área limpa – acabou de ponta cabeça. No plantio direto, ao invés de serem destruídos, os restos de cultura são utilizados como cobertura morta, para proteger o solo, mantendo-o úmido. Recomenda-se inclusive plantar espécies, como o milheto, que são dessecadas com herbicidas para formar um manto sobre a terra. Aí, depois, semeia-se a cultura principal.
A técnica somente se viabilizou com o avanço mecânico, na década de 80. No princípio, máquinas tradicionais foram adaptadas; ao final, surgiram as plantadeiras específicas para plantio direto. O pulo-do-gato aconteceu com a colocação, na parte frontal das plantadeiras, de um “disco-corte”, que segue na frente enterrando sua lâmina e seccionando raízes e restos de cultura. É o abre-alas das modernas plantadeiras desenvolvidas no país, sem rival no mundo.
Parece aula de agronomia. Mas não se compreende a notável revolução de produtividade que acomete a agropecuária nacional sem atentar para certos detalhes do desenvolvimento tecnológico. A chamada vontade política não explica tudo, como gostam de se gabar governos.
O Brasil caminha rapidamente para assumir a dianteira da agropecuária mundial. É o que apontam todos os indicadores. A supremacia, mais que no volume, se dará na qualidade da produção. Gera-se no país uma agricultura tropical, baseada no conceito da sustentabilidade, que se fortalece arrebentando velhos dogmas importados.
Alteram-se as atitudes da produção rural. Jovens agricultores substituem velhos fazendeiros, “gigolôs” da terra cedem lugar para produtores profissionais, ecológicos. Quem duvida, participe de um dia de campo promovido pelos “Amigos da Terra”, como os que se realizam, por exemplo, em Uberlândia - MG. Agricultores inovadores se unem para progredir, sob o rótulo do conservacionismo.
Elogiado por pesquisadores de todo o mundo, recomendado pela FAO, o sistema de plantio direto na palha transformou-se num paradigma. Nasce assim o conceito de nova agricultura. Pachamama agradece.

 

O GIRASSOL


IMPORTANTE “MELHORADOR DE SOLO”, QUE AINDA PROPORCIONA BOA RENTABILIDADE AO PRODUTOR!

Considerando que a atividade agrícola impacta constantemente o ambiente, o “foco básico” do produtor empresarial deve estar na construção e manutenção de solos férteis e produtivos.
Não resta dúvida que uma grande conquista da humanidade é o advento e desenvolvimento do sistema de “plantio direto na palha”, e é justamente o fator desenvolvimento que estamos focando agora, mais especificamente o “perfil do solo”; tanto no aspecto fertilidade (distribuição de nutrientes, e da matéria orgânica, ao longo do perfil, evitando “gradientes de concentração” que interferem negativamente na “arquitetura das raízes”), como, mais amplamente, no aspecto produtividade (aí envolvendo também os aspectos físicos : estrutura, porosidade, permeabilidade)
Para promover tudo isso, a cultura do GIRASSOL constitui uma ferramenta de excelência uma vez que, ao contrário de onerar, contribui DIRETA e INDIRETAMENTE para a rentabilidade do processo!

· DIRETAMENTE : Na última safra de outono, determinamos o custo de US$5,46 / sc 60kg (para produtividade de 2000kg/ha, facilmente obtida em várias lavouras de SP), resultando em rentabilidade líquida de +74% ! (cotação da saca = US$9,50 – considerado US$ = R$3,00)

· INDIRETAMENTE : Sendo a cultura do girassol excelente RECICLADORA DE NUTRIENTES e PROMOTORA DE COLONIZAÇÃO MICORRÍZICA, proporciona ganhos expressivos de produtividade, nas culturas que lhe seguem :
- SOJA após GIRASSOL : + 15%
- MILHO após GIRASSOL : + 30%

Essas são médias obtidas pela agrônoma Regina Ungaro – IAC – em vários locais e em 10 anos de observações e medições !
Esses ganhos, que devem ser computados e agregados ao sistema de produção, tornam extremamente interessante a adoção do girassol, num programa de rotação de culturas, sempre que possível.

OUTRAS VANTAGENS
O GIRASSOL se adapta bem a diferentes ambientes, apresenta tolerância a baixas e altas temperaturas, é bastante resistente a períodos de estiagem (com apenas 200mm no ciclo, pode atingir a produtividade anteriormente mencionada), tem pouca sensibilidade à fotoperiodismo, e apresenta efeito alelopático contra a maioria das ervas daninhas (principalmente as rasteiras)

LIMITAÇÕES E CUIDADOS
Deve-se evitar o cultivo em regiões / épocas úmidas (UR<80%) e frias (<18 graus centígrados).
Dispondo-se de histórico de veranico, evitar coincidir com estádio de estrela até início do florescimento ( 40 – 60 dias após emergência)
A cultura é exigente em solo, devendo-se evitar compactação (havendo necessidade, fazer escarificação no outono) e pH<5,2 (CaCl2 )

ASPECTOS NUTRICIONAIS
O girassol não exige doses elevadas de nutrientes, mas sugerimos a utilização de fórmulas de baixa/média concentrações (presença de cálcio e enxofre para desenvolvimento de raízes) e fontes de fósforo de liberação gradual para suprimento mais adequado por todo o ciclo (girassol absorve 70% do fósforo, no final do ciclo). Os cultivares com aptidão para óleo (maior mercado) demandam três vezes mais energia que os demais (o que ressalta a importância do fósforo e de fonte desse nutriente, de alta eficácia).

COMERCIALIZAÇÃO DO GIRASSOL
É crescente o interesse de indústrias de alimentos pelo girassol para extração de óleo (como é o caso da Bunge Alimentos, que firmou contratos com vários produtores na última safra). Considerando que esse interesse é reflexo do aumento da demanda, pela população, para alimentos (inclusive óleos) mais saudáveis, a perspectiva é de mercado que absorva muita produção!


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